domingo, 15 de agosto de 2010

É TEMPO DE COLHEITA !

As sombras da noite aproximavam se lentamente, ele estava sentado na varanda com os pés esticados na cadeira ao lado, o cansaço de mais um dia começava a pesar sobre os ombros há muito curvados pelo tempo, o pensamento fazia uma retrospectiva de sua vida, olhou em direção ao campo e admirou a plantação, metaforicamente comparou-a á vida, no início seiva a terra, é o preparo para receber a vida, são as nossas escolhas; em seguida a semente é jogada na terra fértil; quando germinada, cresce e produz frutos que servirão de alimento para muitos, assim somos nós, tudo vai depender do plantio que fizermos durante a nossa vida. Foi alertado pelo barulho rasteiro dos chinelos de Nhanhá(ganhou esse apelido quando as crianças ainda eram pequenas e carinhosamente toda casa passou a chama-la assim.) sobre o assoalho:-A Sinhá quê sabê se posso servi o jantá?Como se não tivesse ouvido disse –É Nhanhá a plantação está pronta, o que tinha de ser feito, feito está. Ela retrucou:-Já falei prá Sinhá que esse sol quente inda vai te cozinhá os miolo,que ideia, há quanto tempo já se plantou.,e saiu resmungando . Ao virar-se viu sua imagem refletida no vidro da janela, o cabelo a névoa do tempo já havia marcado, passando as mãos sobre o rosto disse a si mesmo:- O tempo passou tão depressa. Recordou-se dos filhos ainda pequenos correndo pela casa, trazendo vida a todos os cantos, eles cresceram e se foram, hoje suas visitas são esporádicas, estão plantando mundo a fora. Novamente o som da voz de Nhanhá vindo do corredor falando alto:-È mió o sinhô levantá daí e prepará pro jantá, a Sinhá já tá incomodada. Ele olhou para ela, com o olhar fixo e pôs a mão em seu ombro dizendo:- Sabe Nhanhá, está se aproximando o tempo de colheita. - Aproximando?Acho que tá passando da hora, oia pra essa plantação, não tô te entendendo sinhô, anda tão esquisito, disse Nhanhá.Seguiram casa adentro.Após o jantar como costume ele e a Sinhá tomaram o café na sala.Aos poucos a casa também foi adormecendo .Pela manhã, muito antes do dia trazer consigo toda aquela claridade que nos impõe a enxergar com precisão todas as mazelas da vida a fumaça anunciava que Nhanhá começava a preparar o café , aos poucos tudo ia ganhando vida, e o patrão não demoraria muito, era o primeiro da casa a sair da cama, e lembrou- se da Sinhá falando que quando envelhecemos mudamos os hábitos...A voz aguda da Sinhá ecoou sobre os cômodos da casa como pedido de socorro, ,imediatamente Nhanhá deixou seus afazeres e saiu correndo em direção ao quarto, atravessou os corredores que pareciam intermináveis, ao mesmo tempo que tentava imaginar o motivo do grito, só podia ser algum bicho,medrosa como era, a Sinhá tinha se assustado.Quando chegou na porta do quarto espalmou a mão no portal para se apoiar e ofegante deparou-se com Sinhá segurando o patrão pelos ombros na beirada da cama ao mesmo tempo que dizia:-Nhanhá ele se foi, ele se foi, faça alguma coisa,me ajude por favor!Estarrecida ela entrou no quarto meio que não querendo acreditar no que via, aproximou-se, segurou-lhe as mãos, estas já frias, deixou seus dedos escorregarem sobre olhos dele fechando-os ao mesmo tempo em que dizia em voz baixa como se ele pudesse ouvi-la: Eh , sinhô, o sinhô tava certo. È tempo de colheita!

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