Ela gritava em alto tom:
- Ô dona, o pintor chegou, mando entrar ou deixo ele esperando na porta?
A distinta senhora respondeu:
- Que é isso, pare com essa gritaria, como sabe que é o pintor?
- Ai meu Deus, com um rolo na mão, uma escada e todo sujo de tinta, não podia ser o “Bredi Piti”, né dona.
A senhora caminhou para a porta e recebeu o pintor pelo qual já esperava faz tempo:
- “Um menino”, pensou, “será que vai dar conta?!?!”. Levou-o até a sala de estar e começou a explicar-lhe os detalhes do serviço quando foi interrompida:
- Ô dona o pintor vai almoçar aqui? Sabe como é, mais uma boca, mais feijão no fogo. Ao mesmo tempo em que dizia, olhava o pobre rapaz de alto a baixo.
- Vá logo menina cuidar de sua obrigação, daqui a pouco o patrão chega.
- Nossa!!! Mais num respondeu? Boto ou num boto feijão no fogo?
Sem resposta saiu resmungando:
- Dozenta como é, é perigoso obrigar a todo mundo comer sem feijão.
O dia transcorria como de costume, casa grande, vinte e tantos cômodos, e a patroa gostava de tudo muito limpo, virava e mexia passava a mão nos móveis fiscalizando.
Na hora do almoço percebeu a aflição da patroa com o patrão:
- Um absurdo, ninguém quer trabalhar hoje em dia, o pintor além de cobrar caro disse que a tinta não vai dar. Estão acostumados a esbanjar nas outras casas, que horror.
A empregada que já conhecia a dona despistou e foi até a sala onde o pintor estava e o encontrou no canto mexendo a lata de tinta:
- 18 litros, mas só isso e uma casa desse tamanho?!?! Se não trabalha-se aqui a tanto tempo... Foi quando o pintor olhou sobre o óculos e deu um breve sorriso, meio sem graça, e ele não agüentou:
- Escuta, não sei como fazer, mas a dona me disse que é só essa mesmo, que tá apertada, não pode gastar, que as coisas tão pela hora da morte...
- Ih meu filho, conheço bem essa história, conheço bem a “peça”, miseráaavel! Sê pode saber, se ela falou que é só essa lata, ahhh, coitadinho docê.
Foi interrompida pela patroa com o almoço do pintor.
- Pode ir almoçar você também!
No caminho da cozinha encontrou com patrão:
- Seu Justino, a dona agora endoidou mesmo, quer que o pobre do rapaz pinta essa casa, desse tamanho, com uma latinha de tinta, vê lá se ajuda o coitado.
Sem resposta caminhou para a cozinha. Na hora do café da tarde, correu e arrumou o lanche, curiosa para ver como andava as coisas lá dentro.
Quando chegou à sala, o pintor estava misturando água na tinta quando ele a viu falou:
- Que susto, pensei que fosse a dona.
- Não tô acreditando, se ela te pega!!
- O negócio é tirar o meu, porque lucro minha filha, já era com essa sua patroa, tô aqui pensando em você, cê deve passar um “verde” nessa casa.
Pensativa disse:
- Se fosse só “verde” tava bom, é “verde”, “roxo”, “preto”, “cinza” .....
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