Com o passar dos tempos fomos perdendo hábitos, ou melhor, dizendo bons hábitos que fazia o nosso dia a dia parecer menos estressante como, por exemplo, o de visitar amigos e parentes, contar “ causos”,ouvir e relatar fatos cotidianos .Isso funcionava como uma terapia, acredito eu.Bem, por falar em hábitos outro dia aconteceu um fato interessante. Mas antes de contá-lo, quero lembrar um amigo de meus pais, de origem holandesa, que muito nos visitava e que entre conversa e outra contava os costumes de sua terra natal, um que nos chamou muito a atenção foi dizer que como a vida já não nos proporcionava tempo para visitas, fizeram do velório uma forma, embora estranha de comemorar encontros e reencontros. Assim, quando morria uma pessoa da família sabiam que reencontrariam amigos e parentes que não os viam há muitos anos. Faziam jantares deliciosos para marcar o momento (trágico por sinal). E atualmente tenho pensado muito nisso e observado que realmente, quando morre alguém da nossa família ou de amigos nos reencontramos com pessoas há muito não vistas e que por um instante o momento que não deixa de ser trágico,torna-se até agradável. Dizendo isso me lembrei do fato que aconteceu (o mesmo que ia começar a conta, lembra?) Numa determinada ocasião morreu um parente de uma amiga minha e estávamos todos a velar o defunto (vou fazer outra pausa para lembrar de minha admirável professora de literatura Brasileira explicando o real significado de velar alguém, disse que era um momento para lembrar dos feitos, amizades do falecido por essa vida, tudo isso em silêncio e profundo respeito. Acredito que com o passar dos anos fomos nos perdendo nesse contexto),enquanto velávamos, as pessoas e parentes iam chegando , cumprimentando-se e acomodando nos cantos da casa(o que aliás considero muito estranho ,invasão de privacidade, sua casa ser tomada de estranhos observando seus pertences, suas particularidades, entra sai do quarto,da sala,bebe água ,repetida vezes)Continuando, em um dado momento encontramos com uma conhecida de infância , mas que não víamos desde que se mudou para outro estado. Após os cumprimentos sentamo-nos em uma sala sombria ao lado de um velho sofá e conversamos muito, falamos de nossas vidas ,e isso envolvia maridos e filhos,trabalho empregada... Depois de algum tempo, ela se despediu e saiu da sala deixando-nos a sós, minha amiga olhou-me e disse: “ - Nossa o que foi que ela arrumou ,ela acabou! Envelheceu, engordou, e ainda como se não bastasse completou com um” coitada!” ,olhei para ela pensei, ainda bem que pensei e não disse o que pensava daquilo,levantei-me despedi e saí.Depois de um longo tempo tornei a encontrar com a velha conhecida de infância que tinha sido refletida tristemente aos olhos da minha amiga, conversamos e então ela me disse:” -Menina, que bom te ver!Queria fazer um comentário com você, é sobre a nossa amiga, o que foi que houve?Ela está tão acabada, com um jeito de sofrida, enrugada, até comentei com meu marido, meu Deus!”Passei um bom tempo da minha vida pensando naquelas duas, seria inveja,não não creio,acredito mais na dificuldade que o ser humano tem em aceitar, principalmente as mulheres,que o tempo é uma questão implacável sobre nós e que isso se revela mais cedo ou mais tarde para mim e para você, mesmo que seja cruel e irreversível!.
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